Rio de Janeiro, 21 de maio de 2021
Da porta já dá pra sentir o clima da casa festejo: o som é como a água que se espalha, chega até você. Mas antes de cumprimentar os músicos, a anfitriã vem e te recebe com um abraço “oi meu amor, que bom que chegou” e logo diz qual vai ser o cardápio do dia (o que te faz sorrir por fora e por dentro). Passando do portão, os sorrisos continuam, o sinal é trocado de forma instantânea tanto pra quem está te saudando de longe quanto pra quem veio te dar um cheiro pertinho (nessa travessia mesmo o coração mais endurecido se desarma rapidinho).
Por um segundo você olha para o céu e confirma que vai ser um dia bom, aquele azul infinito, sol a pino, brilhando e irradiando alegria. Dali pra noite o embalo continua e aumenta! A casa vai enchendo e a música ganha mais coro. Tem quem se anime e dance (muito, de se entregar); tem quem aproveite esse tempo pra colocar a conversa em dia, os causos são contados levantando risadas e exclamações; as crianças, que corriam a casa inteira, param e fazem uma fila perto da mesa. Por que? Ah sim, claro! Não pode faltar “a sobremesaa!”.
Quando os primeiros bocejos aparecem já tem quem comece a se recolher. O que não significa o fim, a roda de samba estica a música até que haja voz entoando canto. Ei, e como eu te puxei assim do nada e já te coloquei dentro da festa, vou deixar a escolha da hora de partir contigo, pode ser? Tem aí quem fique noite adentro, e consegue até ver a lua e o sol mais uma vez trocar de lugar.
E, aí, curtiu?
Depois de te apresentar ao clima e tom dessa casa, é preciso falar mais sobre o que inspirou esse passeio no meio da rotina:
A casa festejo é uma mistura dos sentimentos já apresentados com os que ainda farão aparições aqui. É o aconchego da casa amor, o peito leve da casa liberdade e a possibilidade de florescer da casa jardim, junto com as delícias da casa fartura e a alegria que toma conta da casa sonho (essas duas últimas ainda serão assunto nas próximas cartas).
É uma casa móvel, que navega nas memórias que resgato de vivências com a família Vieira Lima. As casas de minhas tias e tios se abrem para encontros e celebrações da vida. O papel de anfitriã/ão é revezado, o que não falta é espaço para a festa acontecer. Cada um no seu jeitinho dedica amor e marca presença: minha tia e madrinha Soraia é a diva, reina na logística e animação, tia Gislene tem uma voz linda que ajuda a conduzir o repertório, tio Omar Júnior sempre tem história pra contar e agora também garante os melhores salgados da região, tia Gisele tem um olhar sempre cheio de inspiração pra decorar o espaço, tia Flor é risada certa que chama outras mais, tia Paullinha além de somar em várias frentes também bota pilha pros encontros e faz a família viajar espalhando as festas para além da ilha.
Em movimento, esse grupo se une, ri, canta, dança, às vezes se desentende, mas sempre volta a se encontrar, abrindo as portas da casa festejo para quem quiser visitar.
Daí fez sentido representar essa casa com a mobilidade que naturalmente ela navega: busquei a estrutura do barco para transportar essa festa. Seus tripulantes são alegres, vestem adereços que chamam atenção pro momento em questão: celebração! A música anuncia a chegada por onde passam, flui e embala como a água do rio.
No processo desse desenho, primeiramente, eu queria representar um momento de festa. O barco surgiu depois de rascunhar algumas composições nas quais não fiquei satisfeita com o retrato estático da reunião. Busquei referências de barcos do Maranhão, encontrei registros do pesquisador Jandir Gonçalves que tem um trabalho incrível com olhar para a cultura maranhense.
O lápis de cor foi a ferramenta inicial, depois senti que o barco precisava de outro peso, aí você já sabe: corri pra guache haha.
O azul e o vinho foram as cores da primeira paleta, mas quando digitalizei os desenhos e fui fazer ajustes de realce no computador fiquei mais satisfeita em tirar o vinho e deixar o azul com detalhes amarelos.
E nossa! Como é incrível que existem referências que abraçam nossa mente de forma inconsciente e depois cai a ficha de que conduziram certas escolhas. Revi o filme “Guava Island” e vendo o mar de azul que toma conta do festival e do cortejo percebi a casa festejo saltar da tela, não foi uma inspiração direta, mas com certeza foi uma influência para o resultado final.
casa festejo
composições finais:
Espero que tenha gostado da casa que visitamos hoje!
Como de costume, me despeço já com saudade, então, acabo me estendendo e deixando algumas recomendações que podem ajudar a prolongar o sentimento do festejo:
o perfil de registros de Jandir Gonçalves: instagram Jandir
O filme Guava Island (clicando já vai pro link no Prime Video): amo as performances musicais, amo os figurinos, os atores, é curtinho e lindo <3
e a playlist Meus pés de Vieira Lima minha irmã reuniu a trilha que embala alguns momentos da família.
Que mesmo no caos ainda existam formas de dar espaço pro festejo e aproveitar a cura que ele traz!
Um beijo! Se cuida (ao sair de casa, lembre-se: máscara bem vedada ao rosto (#pffparatodos) e na medida do possível frequente espaços bem ventilados),
até a próxima,
Lelê